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Depressão

Depressão: reflexões e entendimentos

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A depressão, sob o olhar da psicanálise, é uma jornada profundamente complexa e pessoal. Não é apenas uma questão de desequilíbrios químicos ou eventos externos, mas uma intrincada teia de conflitos internos.

Vou citar aqui um trecho do livro O DEMÔNIO DO MEIO-DIA – Uma anatomia da Depressão, do autor Andrew Solomon:

“A depressão é a imperfeição do amor, para poder amar, temos que ser capazes de nos desesperarmos ante as perdas, e a Depressão é o mecanismo desse desespero. Quando ela chega, destrói o indivíduo e finalmente ofusca sua capacidade de dar ou receber afeição”.

Para mim, como psicoterapeuta, a depressão é como uma névoa densa que envolve o indivíduo, escurecendo toda a sua vitalidade e a alegria de viver. O oposto de depressão não é felicidade, mas sim, vitalidade.

Sem vitalidade, é como se o indivíduo estivesse de luto, não necessariamente por algo ou alguém, mas por uma parte de si mesmo. É uma tristeza que se infiltra silenciosamente e, aos poucos, drena a energia e a esperança. Encontrar os amigos, trabalhar, viajar, parece que os prazeres antigos não fazem mais sentido. 

Luto e Melancolia

Freud fez uma distinção interessante entre luto e melancolia (depressão). No luto, enfrentamos a perda e, com o tempo, conseguimos seguir em frente. Já na melancolia, essa perda se internaliza, e a pessoa começa a se culpar, a se depreciar. É uma dor que não encontra alívio porque, muitas vezes, nem sabemos exatamente do que estamos de luto. Pode ser uma perda simbólica – um ideal, um sonho, uma expectativa.

A Imperfeição do Amor

Uma das ideias que mais me tocam é a de que a depressão pode ser vista como a imperfeição do amor. Vivemos em busca de aceitação, de amor perfeito, e quando essa idealização se choca com a realidade imperfeita, o desespero pode se instalar. A depressão é, de certo modo, uma resposta a essa dissonância entre o que desejamos e o que encontramos na vida real.

A busca incessante pelo amor ideal muitas vezes nos leva a frustrações. Quando a realidade não corresponde às nossas expectativas, entramos em um estado de luto por esse amor idealizado. E essa desilusão pode ser devastadora, transformando-se em um estado depressivo.

A Dor do Inconsciente

Sentimentos reprimidos, traumas não resolvidos e desejos não realizados se acumulam e, eventualmente, encontram uma saída na forma de depressão.

A Escuta Psicanalítica

Na psicoterapia psicanalítica, ofereço um espaço seguro e sem julgamentos para que meus pacientes possam explorar livremente seus pensamentos e sentimentos. É uma oportunidade para que eles falem sobre suas dores, medos e desejos mais profundos. Através desse processo, começamos a desvendar as camadas ocultas, trazendo à luz os conflitos que alimentam a depressão.

A relação terapêutica é crucial. A confiança e a empatia que se desenvolvem entre terapeuta e paciente permitem que este se sinta seguro para enfrentar os aspectos mais dolorosos de sua história. É um trabalho conjunto, uma jornada compartilhada rumo ao autoconhecimento e à cura.

Conclusão

Embora seja um caminho doloroso, a exploração da depressão, por vezes aliado à tratamento farmacológico, pode levar a um autoconhecimento profundo e a uma transformação significativa. É um convite para olhar além da superfície, para escutar as vozes silenciosas do nosso ser interior e para encontrar, no meio do sofrimento, a possibilidade de renovação e crescimento.

Essa é a minha visão como psicoterapeuta e como ser humano. Acredito que, ao enfrentarmos nossa depressão, estamos nos dando a chance de nos conhecer melhor e de viver uma vida mais autêntica e significativa.

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